mardi 20 novembre 2007

Parlamento europeu condena perseguição contra cristãos

Comunidade Européia poderá
condicionar programas de
cooperação à liberdade de religião

O
Parlamento europeu aprovou na última quinta-feira, 15 de novembro, por 57 votos contra dois e uma abstensão, uma resolução que denuncia as violências contra cristãos em todo o mundo e, em particular, na Ásia, África e Oriente Médio.

A violência crescente contra os cristãos foi objeto de debate entre os parlamentares europeus, que se dizem particularmente inquietos com a multiplicação dos episódios de intolerância e de repressão contra as comunidades cristãs.

O texto da resolução alerta os governantes dos países daqueles continentes, “a promoverem o julgamento dos responsáveis pelos crimes cometidos, a oferecer as garantias adequadas e efetivas de liberdade de religião e de crenças” e a investir na segurança das comunidades cristãs, sublinhando que “as autoridades têm o dever de proteger todas as comunidades religiosas da discriminação e da repressão”.

O texto cita, também, alguns casos concretos de raptos, homicídios e violências registradas recentemente em vários países, como Iraque, Paquistão, Gaza, Egito, Turquia, Síria, Sudão, China e Vietnam. Dentre outros, o rapto de dois padres iraquianos em outubro deste ano; o assassinato do pastor Ragheed Ganni e de tres diáconos em Mossoul, em junho passado; um assalto contra uma igreja cristã, também em outubro, na periferia de Lahore; o assassinato de um bispo protestante e sua esposa, em agosto, em Islamabad, no Paquistão; o assassinato do gerente de uma livraria cristã em Gaza, ocorrido no mês de outubro; e o rapto do pastor Bossi, durante o mês de junho, nas Filipinas.

O Parlamento europeu sublinha, também, “a gravidade da situação com relação à liberdade religiosa na China, onde as autoridades continuam a reprimir toda sorte de manifestação religiosa, particularmente da igreja católica, cujos fiéis e bispos encontram-se detidos há anos, tendo alguns deles falecido nas prisões daquele país”. Os representantes europeus destacam, também, a “forte repressão das atividades da Igreja católica e outras religiões” no Vietnam.

De acordo com o vice-presidente do Parlamento europeu, Mario Mauro, em entrevista à agência italiana SIR, citada no site
la-Croix.com, “graças à esta resolução a Comissão européia deverá, a partir de agora, estabelecer que todo programa de cooperação e de ajuda ao desenvolvimento apenas seja realizado sob a condição de que o princípio de uma verdadeira liberdade religiosa seja respeitada”.

Apoiando o dialógo entre as diferentes religiões, esta iniciativa do Parlamento europeu é também um convite às autoridades religiosas de todo o mundo para que promovam a tolerância, agindo contra toda forma possível de extremismo.

Tradução e texto: Fernando Lobo

Fonte:
European Parliament (Justice and citizenship)

samedi 10 novembre 2007

Cristãos são perseguidos e mortos na China, sede dos Jogos Olímpicos de 2008

Com a aproximação dos Jogos Olímpicos de Verão, previsto para o próximo ano, os olhares do mundo se voltam para a China. E proliferam denúncias e notícias de ações contra a comunidade cristã chinesa. A mais recente, foi o assassinato de cinco missionários presbiterianos de procedência americana, na semana passada.

A organização Portas Abertas, instituição internacional protestante que apóia cristãos perseguidos por causa de sua fé, se preocupa com a intensidade e amplitude das perseguições ocorridas ultimamente naquele país: “Querem aparentar uma boa conduta, mas por atrás das muralhas, nos últimos meses, cristãos chineses têm sido cada vez mais maltratados", anunciam.

Em Pequim, de acordo com informações divulgadas pelo site francês TOPCHRETIEN.COM, os pastores têm sido convidados a deixar a cidade, antes do início dos Jogos. Em muitas províncias chinesas, os cristãos não podem mais se reunir sem receber uma visita da polícia. Uma centena de cristão estrangeiros foram expulsos pelo simples fato de guardarem literatura cristã em suas casas. A rigidez e a inflexibilidade da polícia com grandes grupos de cristãos que realizam reuniões em suas próprias casas, tem aumentado significativamente. As bíblias impressas são cada vez mais raras...

Com seus 80 milhões de crentes, a China é um dos países com a maior presença de cristãos do mundo. Dentre eles, 30 milhões frequentam uma das duas igrejas oficiais (protestante ou católica). Mas a grande maioria prefere não frenquentá-las em função do controle invasivo e autoritário exercido pelos organismos governamentais, o que estimula a existência de dezenas de milhares de assembléias ou as já conhecidas igrejas residenciais, consideradas ilegais pelo governo.

Sempre de acordo com o site TOPCRHETIEN.COM, um comunicado da Missão Portas Abertas denuncia que o culto na China é livre, mas sob forte controle do governo, ressaltando, ainda, que pastores têm sido detidos em função de iniciativas que, nas sociedades ocidentais, seria considerado como a livre expressão de sua fé.

Como vemos, parece que a perseguição contra o culto e as manifestações da fé cristã, durante os Jogos Olímpicos na China, vai ser muito mais intensa e presente do que esperam atletas, organizadores e a mídia internacional.

Tradução e texto: Fernando Lobo

vendredi 9 novembre 2007

Seminário para pessoas com chamado para trabalhar com população de rua



A mendicância no Brasil cresce a cada dia! Se você não se conforma com a situação dramática de milhares de homens e mulheres que trocaram suas famílas pelas ruas e está disposto(a) a fazer algo para mudar esta situação, este evento é para você. Participe!

Promovido pela maior instituição de recuperação de mendigos do Brasil, este seminário pode mudar também a sua vida!


Anápolis - Goiás - Brasil

mardi 6 novembre 2007

Liberdade de Expressão e as leis contra a homofobia: os casos da França e do Brasil

Uma manifestação promovida pelas associações Act Up-Paris e Tjenbé Rèd , no dia 28 de julho, na praça do Trocadéro, em Paris, me chamou a atenção. Eram duas as causas que moviam um inconformado grupo de homossexuais, que atraíam a atenção do público presente no local: a primeira delas, uma reação ao enforcamento, no Irã, de homens acusados de sodomia e de comportamentos julgados imorais pela justiça iraniana. Em segundo lugar, tentavam interferir numa negociação entre as autoridades francesas e a embaixada do Iran, a respeito da expulsão de um jovem iraniano de 21 anos, que havia deixado seu país em função de sua orientação sexual. Enquanto ainda reflito sobre as imagens que vi, acompanho, no Brasil (via internet), os debates em torno de um tema que guarda uma certa correlação com a iniciativa da Act-Up Paris: o projeto de lei sobre a homofobia, que tramita no Congresso brasileiro.

Legislação e criminalidade
De fato, por trás da iniciativa dos manifestantes parisienses havia um conjunto de informações acumuladas que tem se transformado não apenas em preocupação constante para o grupo, mas em fator que fundamenta e coordena suas ações: um recrudescimento da violência contra os homossexuais.
O próprio secretário adjunto do movimento SOS Homofobia,
Jacques Luzé, em entrevista à rede TF1 de televisão, ainda em maio de 2006, denunciava uma onda de graves agressões que, de acordo com ele, conduziram, nalguns casos, à própria morte das vítimas. Acusando o que chamou de “forte degradação do clima social”, informou que nos últimos seis anos o número de agressões se multiplicaram por seis, passando de 23 casos em 2000, para 133 em 2005. Isso sem considerar as agressões que não são denunciadas publicamente e que, portanto, permanecem fora de sua contabilidade. Vale a pena lembrar sua análise e descrição pessoal a respeito da situação : “Antes, quando um homo era insultado na rua, lhe diziam 'gay sujo'. Mas, agora, dizem 'eu vou te queimar' ”. Queimar vivo, evidentemente.
Aparentemente, esta degradação do tratamento dedicado aos homossexuais franceses pode aparentar descaso ou desinteresse por parte do governo. O que não é verdade. De fato, desde 2002 um conjunto de leis vem sendo implementadas e praticadas e, além disso, incrementadas em 2003 e 2004, reforçando até mesmo o Código Penal francês, tendo sido introduzido mecanismos agravantes no julgamento de crimes cometidos em razão da orientação sexual das vítimas.
Esta descrição rápida do cenário francês, pode nos conduzir a uma simples, mas contundente conclusão: apesar da aprovação e aplicação de uma legislação que visa conter a criminalidade contra uma minoria social composta por lésbicas, gays, bissexuais e transexuais, pode-se constatar que a violência contra eles sofreu um aumento significativo.
Ora, mesmo considerando as diferenças culturais, políticas, sociais, ecônomicas e até mesmo jurídicas entre os dois países, a experiência francesa aponta, de antemão, para uma aparente inexperiência tanto dos legisladores brasileiros, como dos líderes da
ABGLT. Na ansiedade em cópiar e reproduzir modelos legislativos europeus e norte-americanos, esquecem-se de analisar o funcionamento e as consequências destas mesmas leis em seus países de origem.
Além disso, as justificativas do PL 5003/2001, do PLC 122/2006, do PL 6418/2005 e seu substitutivo, bem como os argumentos dos grupos favoráveis à ABGLT, se baseiam na existência, na quantidade e na impunidade de crimes praticados contra esta população, como se uma nova legislação pudesse, por si só, contê-los e fosse suficiente para resolver e por fim à injustiça que denunciam.
Contudo, para além das questões já habilmente colocadas e divulgadas por legisladores e comentaristas brasileiros (notadamente os evangélicos – primeiros a alertar sobre a gravidade da situação), esta ação política em curso no Congresso brasileiro, parece denunciar a prática de um Estado que pretende implementar, sem medir as consequências correlatas, acões inócuas e desprovidas de resultados práticos.

Fábrica de leis numa sociedade por quotas
No Brasil, considerando as indicações de inconstitucionalidade, ilegitimidade e mesmo sendo analisado como iniciativa heterofóbica, as críticas ao projeto de lei contra a homofobia estão centralizadas no prejuízo que a lei pode trazer a uma conquista histórica da sociedade brasileira: a liberdade de expressão.
Assim, por mais que
simpatizantes e legisladores argumentem contra esta interpretação, ela permanece nas entrelinhas do texto e intimamente ligada à liberdade e ao direito de pensar.
O que torna a situação bastante delicada, pois extender a noção de crime ou delito à expressão de pensamentos, idéias e opiniões, sejam pessoais ou coletivos, nos introduz num regime político comparável ao facismo, cujas características induzem os cidadãos a dizer sempre o oposto daquilo que pensam, se aquilo que pensam é contrário à “verdade oficial”. A possibilidade de criminalizar o próprio pensamento e sua expressão é absolutamente incompatível com o direito democrático que fundamenta as ações políticas do Estado e da sociedade brasileiros.
Sob a influência de uma estratégia que denuncia a visão de uma sociedade compartimentada, as ações do governo são direcionadas como respostas às pressões colocadas por grupos que alcançam projeção e visibilidade através da mídia, dos meios de comunicação que constróem uma realidade, em grande parte virtual, que passa a ditar normas de comportamento, inclusive para os próprios grupos e partidos políticos que dividem entre si o poder de controlar e legislar sobre a vida dos cidadãos comuns.
Por outro lado, ante uma sociedade transformada em grupos sociais midiatizados, eleitos como vítimas de uma opressão social estrategicamente construída pela mídia, na urgência de demonstrar sua capacidade de reação, o governo passa a fabricar leis sob encomenda, de acordo com o ritmo das pressões que sofre.
Tais iniciativas, provenientes de um protocolo de intenções ideológicas dos partidos governistas (normalmente impregnados por uma tendência de esquerda, já um pouco desbotada pelo tempo), investem seus esforços nas minorias que se batem contra a discriminação, imaginando ter o aval da maioria silenciosa.
E é exatamente esta situação que permite identificar nossos legisladores como autores de uma espécie de tirania das minorias (neste caso específico, de uma minoria de GLBT), notadamente quando amplos segmentos que representam os interesses majoritários da sociedade se mobilizam contra ações que podem comprometer autonomias e direitos considerados irrevogáveis.
Esta sociedade por cotas, espécie de grupismo, estimulado pelo governo, por sua ineficácia e ausência de resultados práticos, pode produzir efeitos circulares absolutamente improdutivos: se todas as minorias têm direitos que só podem ser garantidos por uma legislação específica, não resta outra opção senão a reivindicação de seus direitos por parte de cada uma delas, e não apenas como minoria imaginária no contexto de uma sociedade complexa, mas como único caminho para continuar existindo de forma autêntica, numa batalha virtual interminável.

Respeitando as diferenças
Felizmente, sabemos que este não é o caminho ideal para o Brasil.
Podemos ser vanguarda sem a obrigação de adotarmos fórmulas prontas, impostas de fora para dentro, importadas. Podemos ser vanguarda, guardando os preceitos fundamentais dos direitos humanos e as liberdades conquistadas pelos avanços da sociedade ocidental cristã. Podemos ser vanguarda, aprendendo com a história, respeitando as diferenças e reorientando as estratégias através de adaptações indispensáveis e condizentes com as peculiaridades e características de nossa própria nação.
Neste momento, mais do que nunca, é preciso ser autêntico.
Se os projetos de lei contra a homofobia representam uma face ou um segmento radical e autoritário do partido governista, o governo que a sociedade brasileira elegeu é, certamente, mais consistente, democrático e responsável.
Para prová-lo bastar ouvir a sociedade, perceber a maioria e alterar o texto das propostas que circulam pelos corredores da Câmara e do Senado, antes que tomem a forma definitiva de lei.
Mesmo porque, no formato atual, a lei vai conceder à comunidade GLBT mais do que eles mesmos esperam: se o que pretendem é coibir manifestações que incitem a violência, garantindo seus direitos como pessoas e cidadãos comuns, não há necessidade de impor condições e penalidades que comprometam a liberdade de expressão de outros grupos, mesmo que seu modo de vida seja interpretado como pecado por parte, por exemplo, da comunidade cristã e evangélica. Pois, certamente, as representações construídas a respeito das pessoas que defendem os valores presentes na Palavra de Deus (puritanos ou conservadores) não vão ser excluídas nem do discurso, nem, muito menos, do universo mental daqueles que compõem a comunidade homossexual brasileira.

Por Fernando Lobo

samedi 27 octobre 2007

Eis que estou à porta e bato

Após ter ouvido o testemunho de Sujo John, um jovem executivo indiano residente nos EUA, que escapou miraculosamente ao atentado de 11 de setembro de 2001 contra o World Trade Center (convidado especial de minha igreja – Communauté Crétienne du Point du Jour – região parisiense), não pude escapar a uma reflexão que resolvi trazer para este blog.

É muito comum na mídia internacional ou mesmo em ambientes não cristãos, assistirmos a tentativas de comparações, teológica e historicamente injustas (e vou mostrar porque), entre as imagens públicas de alguns grandes líderes que marcaram a história da humanidade. Notáveis e dignas de nota, são aquelas análises que igualam líderes religiosos em poder e originalidade, colocando na mesma plataforma de homens iluminados nomes como o de Maomé, Buda ou Jesus (pra ficar apenas com três), como se adeptos fossem de capacidades super, sobre ou extra-humanas.

Tais comparações, podem ser consideradas historicamente injustas por que desconsideram a dimensão e amplitude da influência de Jesus na história dos homens (nada contra Maomé ou Buda). Há também uma injustiça – ou erro – teológica(o), em função de uma diferença fundamental, imperceptível aos insensíveis e não nascidos de novo: as novidades propostas por Jesus anunciam um Deus cuja essência e natureza simplemente desqualifica todas as concepcões que se dizem portadoras de um discurso divino.

Por que? Porque há uma ousada revelação de um Deus único, não apenas no sentido monoteísta da palavra. Autêntico, mas num sentido que transcende a noção de único. E não apenas porque Jesus fala enquanto Deus e como o filho do próprio Deus, guardando e, ao mesmo tempo, expondo uma correlação nunca antes revelada. Há uma cumplicidade incondicional entre Eles: “Respondeu Jesus: Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viveremos para Ele e faremos nele morada” (Jo 14.22). Mas, também e principalmente, porque, ao contrário dos deuses apregoados por Maomé ou Buda – que devem ser e são objetos da procura humana e alvos de um exercício disciplinado, matemático, de busca por parte de seus fiéis, cuja intenção confunde-se com a causa de suas próprias existências divinas – o Deus anunciado por Jesus, na condição de autor da palavra que pronuncia, se dispõe, procura, encontra e, até mesmo, espera por aqueles a quem chama de filhos: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo” (Ap 3.20).

Ele não apenas está à porta, mas bate nela, avisa que está ali, disponível, pronto para entrar e, como vemos, toma - Ele mesmo - a iniciativa e diz claramente que vai entrar, cear e se alimentar junto. Nas entrelinhas do texto, expõe seu próprio desejo: quer entrar! Ao homem, basta que abra a porta.

Estamos diante, portanto, de uma diferença crucial, que deve ser considerada. De deuses passivos, a um Deus ativo. De deuses que se escondem atrás de exercícios permantentes e inacabáveis de disciplina e ação pessoal, a um Deus que se mostra, que se auto-apresenta. De deuses que devem ser procurados e achados, a um Deus que procura e está à porta. E mais: se for procurado, será achado.

Muito além das imagens de líderes que marcaram, de alguma forma, a história da humanidade, objetos da mídia mundial ou alvos de discípulos à procura de algo que preencha seu vazio existencial, vemos um Deus sem mass media, que atua, age e transforma a própria história. Autêntico. Único a mostrar os sinais de seu próprio sacrifício e as marcas dos cravos nas mãos, depois da cruz.

Por Fernando Lobo

mercredi 24 octobre 2007

Crer contra a esperança

Dois fenômenos têm estado muito presentes na história do cristianismo europeu ocidental: de um lado, o processo de descristianização crescente que marca significativamente a vida espiritual de alguns países e, por outro, de forma aparentemente contraditória, a insistente esperança de um re-avivamento espiritual presente no e a partir do meio cristão.

O caso da França é exemplar. A última pesquisa CSA/Le Monde des religions (2005) indica que 51% da população francesa se declara católica, contra 67% em 1994. Queda que indica uma tendência aparentemente em ascensão. Do restante da população, 31% se dizem sem religião (23% em 1994), 4% são mussulmanos, 2% ou 3% protestantes, 1% judeus...

Contudo, não está apenas aí o principal indício de uma crescente descristianização da sociedade francesa, comemorada pelo movimento Liberté Egalité Laicité, que defende uma laicização plena e completa no país. A mesma sondagem esclarece também uma outra tendência: 67% daqueles que se declaram católicos ignoram o sentido da festa de Pentecostes, 57% não crêem no dogma da Trindade e 50% não estão convencidos da própria existência de Deus. As palavras do bispo católico Christophe Dufour, publicadas no diário françês Le Figaro, em fevereiro de 2007, são enfáticas: as referências cristãs na sociedade francesa “correm o risco de serem lançadas no domínio da arqueologia como os templos da Roma antiga”.

Diante disso, não é necessário muita reflexão para perceber que não se trata de uma situação que atinge apenas o catecismo, a liturgia e os dogmas do catolicismo francês. Há um fenômeno de ampliação não apenas da descrença, mas da negação de Cristo e dos valores cristãos, que extrapolam os limites da religião pura e simples e traz consequências inevitáveis: para além da solidão – bastante comum entre os franceses –um grande índice de suicído (o de Paris é um dos maiores do mundo) e a instabilidade da estrutura familiar, com alta frequência de casamentos desfeitos (tome-se como amostra o divórcio exemplar, acompanhado e explorado pela mídia nacional, do presidente recém eleito Nicolas Sarkozi e sua ex-esposa Cecília).

Como vemos, um terreno acidentado e espinhoso para cerca dos 2% ou 3% da população do país, conhecida como protestantes: pastores, missionários, homens e mulheres nascidos de novo e Igrejas inteiras que sabem que não apenas a França, mas toda a Europa, são territórios estratégicos para a ação das hostes e postestades do mal, cuja presença em peso tem recriado cenários dignos das caricaturas renascentistas ou barrocas do inferno. São milhares de almas cativas, dominadas, vivendo e caminhando a passos largos na direção contrária daquela proposta por Deus.

Neste contexto, evangelizar, orar, implorar, interceder por um reavivamento espiritual é mais do que contraditório, é necessário. É, como fez Abrãao, crer contra a esperança. Trata-se de uma questão de evangelização persistente (como se pudesse ser de outra forma). Noutras palavras, é preciso re-anunciar o Evangelho, re-começar e re-estabelecer um novo padrão de diálogo e comunicação com almas não apenas calterizadas pelo individualismo pós-moderno, mas armadas até os dentes pela lembrança de uma experiência traumática que a história de um catolicismo exacerbado acabou por delimitar, alimentar e manter.

Neste território hostil, é fundamental lançar a semente e esperar em nosso Deus eterno e imutável que seja farta a colheita. Indispensável, também, anunciar as grandezas daquele que nos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz e as boas notícias do Evangelho de Jesus. Que tem o poder de mudar não apenas tendências e perspectivas apontadas por sondagens humanas, mas de alterar o próprio rumo da história dos homens.


Por Fernando Lobo

Pensando sobre o ser igreja


Falar de igreja, nunca é falar de um local sagrado, de um templo construído por mãos humanas, de um altar de granito, de vitrais maravilhosos, de grandes organizações e estratégias ou de um movimento religioso, seja ele qual for. Basta ler o Novo Testamento e você vai perceber isto.Falar de igreja, na verdade, é falar de vida compartilhada, de fé compartilhada, de amor compartihado, de misericórdia compartilhada, de necessidades compartilhadas, de dores e alegrias compartilhadas, de graças, serviços e dons compartilhados, de afetos compartilhados, de choros e risos compartilhados, de um caminhar em Deus, no chão da existência, compartilhado.Na visão de Jesus, o templo somos nós, o altar é o coração, o sagrado está na vida criada à imagem e semelhança de Deus e no Deus Criador de toda a vida; a adoração que o Pai procura é a rendição da intimidade do ser a Deus no dia a dia da existência; as verdadeiras riquezas só cabem no coração; o estar juntos é para nossa edificação e crescimento; algo que jamais devemos negligenciar ou colocar de lado, porque estamos, agora, mais pertos da vinda de Jesus, do que quando, no princípio cremos; a pregação é a proclamação da Palavra que anuncia a boa nova de Jesus e que nos instrui, ensina, corrige, encoraja, edifica e consola na caminhada; o Corpo é para que as pessoas levem as cargas umas das outras, orem umas pelas outras, socorram umas às outras em suas necessidades, dividam alegrias e tristezas, lutas e vitórias; experimentem juntas a largura, a altura, o comprimento e a profundidade do amor de Cristo, até que sejamos tomados de toda a plenitude de Deus.Igreja não é um evento, um congresso, uma conferência, atividades ou um projeto. Igreja são vidas que caminham juntas seguindo Jesus; gente que crê e confessa Jesus como seu Senhor; gente quebrada, imperfeita, que tem problemas e limitações, que chora, que luta e que é humana; mas que está sendo aperfeiçoada pela graça de Deus e que insiste no compromisso de andar em comunhão. Igreja fala de pessoas que têm nome, olhos, rosto, mãos, histórias, risos e lágrimas, dúvidas e certezas, momentos de fraqueza e de força. Igreja são pessoas por quem oramos e que oram por nós, gente com quem compartilhamos nossas angústias e dores, mas também nossas alegrias e momentos bons; pessoas a quem encorajamos e por quem somos encorajados na caminhada da fé.Não somos juízes dos nossos irmãos: somos irmãos. Não estamos aqui para ter domínio sobre a fé dos nossos irmãos; mas, para compartilhar da sua alegria na fé em Jesus. Não estamos aqui para responder todas as perguntas, mas para sermos fraternalmente amigos e nos compadecermos uns dos outros. Não estamos aqui para controlarmos a entrada do céu; mas, para anunciarmos as grandezas daquele que nos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz e as boas notícias do Evangelho de Jesus. Não estamos aqui para condenar; mas, para amar, perdoar, expressar graça e compaixão, ser sal e luz, fazer diferença para o bem.Que possamos olhar para Jesus e reencontrar o verdadeiro sentido do ser igreja.

Por Alexandre Guzzardi, pastor brasileiro residente na Inglaterra.