Após ter ouvido o testemunho de Sujo John, um jovem executivo indiano residente nos EUA, que escapou miraculosamente ao atentado de 11 de setembro de 2001 contra o World Trade Center (convidado especial de minha igreja – Communauté Crétienne du Point du Jour – região parisiense), não pude escapar a uma reflexão que resolvi trazer para este blog.
É muito comum na mídia internacional ou mesmo em ambientes não cristãos, assistirmos a tentativas de comparações, teológica e historicamente injustas (e vou mostrar porque), entre as imagens públicas de alguns grandes líderes que marcaram a história da humanidade. Notáveis e dignas de nota, são aquelas análises que igualam líderes religiosos em poder e originalidade, colocando na mesma plataforma de homens iluminados nomes como o de Maomé, Buda ou Jesus (pra ficar apenas com três), como se adeptos fossem de capacidades super, sobre ou extra-humanas.
Tais comparações, podem ser consideradas historicamente injustas por que desconsideram a dimensão e amplitude da influência de Jesus na história dos homens (nada contra Maomé ou Buda). Há também uma injustiça – ou erro – teológica(o), em função de uma diferença fundamental, imperceptível aos insensíveis e não nascidos de novo: as novidades propostas por Jesus anunciam um Deus cuja essência e natureza simplemente desqualifica todas as concepcões que se dizem portadoras de um discurso divino.
Por que? Porque há uma ousada revelação de um Deus único, não apenas no sentido monoteísta da palavra. Autêntico, mas num sentido que transcende a noção de único. E não apenas porque Jesus fala enquanto Deus e como o filho do próprio Deus, guardando e, ao mesmo tempo, expondo uma correlação nunca antes revelada. Há uma cumplicidade incondicional entre Eles: “Respondeu Jesus: Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viveremos para Ele e faremos nele morada” (Jo 14.22). Mas, também e principalmente, porque, ao contrário dos deuses apregoados por Maomé ou Buda – que devem ser e são objetos da procura humana e alvos de um exercício disciplinado, matemático, de busca por parte de seus fiéis, cuja intenção confunde-se com a causa de suas próprias existências divinas – o Deus anunciado por Jesus, na condição de autor da palavra que pronuncia, se dispõe, procura, encontra e, até mesmo, espera por aqueles a quem chama de filhos: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo” (Ap 3.20).
Ele não apenas está à porta, mas bate nela, avisa que está ali, disponível, pronto para entrar e, como vemos, toma - Ele mesmo - a iniciativa e diz claramente que vai entrar, cear e se alimentar junto. Nas entrelinhas do texto, expõe seu próprio desejo: quer entrar! Ao homem, basta que abra a porta.
Estamos diante, portanto, de uma diferença crucial, que deve ser considerada. De deuses passivos, a um Deus ativo. De deuses que se escondem atrás de exercícios permantentes e inacabáveis de disciplina e ação pessoal, a um Deus que se mostra, que se auto-apresenta. De deuses que devem ser procurados e achados, a um Deus que procura e está à porta. E mais: se for procurado, será achado.
Muito além das imagens de líderes que marcaram, de alguma forma, a história da humanidade, objetos da mídia mundial ou alvos de discípulos à procura de algo que preencha seu vazio existencial, vemos um Deus sem mass media, que atua, age e transforma a própria história. Autêntico. Único a mostrar os sinais de seu próprio sacrifício e as marcas dos cravos nas mãos, depois da cruz.
Por Fernando Lobo